segunda-feira, 15 de abril de 2024

Menos Pausa

Eu escrevo em blog desde que o mundo da internet existe. Sou blogueira desde quando blogueiras faziam blogs. 

Agora estou no climatério. Sim, aconteceu. Quer dizer, eu tirei essa informação da minha mente. Ainda não fui ao médico. Mas tenho dito isso aos quatro ventos como se eu tivesse sido sentenciada. Cheguei naquele momento da vida que a gente diz "na minha idade (...)", mas tendo a oportunidade de me ler desde os 25 anos, eu sempre fui assim. Sempre cheguei antes nos problemas das idades. É um preview. Vanguarda, alguns diriam.
Mas que tipo de gente quer chegar na menopausa antes de chegar?

Sempre tive amigas mais velhas que eu. Aí na virada dos 35, eu me juntei com jovens. Eu que era a antítese do Peter Pan, quis tardiamente entrar na terra do nunca. Fui fazer um intercâmbio com jovens, e tive a oportunidade de me sentir velha de verdade. Quem é velho aos 35 anos, meu Deus? Eu não sou velha nem agora aos 42. Me espanta quando alguém me chama de senhora. E que doideira é essa de jovem pra ser velha, e velha pra ser jovem, Sandy?

Bem, agora eu entrei nesse combo do climatério. Toda vez que alguém me conta uma história de menopausa, eu compadeço como se eu vivesse de menopausa desde criancinha. Aqui é menopauser, team menopausa! Bora, idosas, mulheres.

Eu sinto calor. Mas de fato está calor, o nome disso é aquecimento global, não menopausa.
Eu sinto cansaço. Mas quem não sente? A gente trabalha muito mais que antigamente, ganha-se muito menos, e vive-se muito mal.  

Ando sem paciência. Mas isso eu nunca tive mesmo. Nunca foi um dom. Confesso que é até minha marca registrada. 

Eu nunca precisei da idade para falarem "deixa ela, tá louca!", porque sempre fui estranha. 
Então não é a menopausa, sou só eu mesmo.

Mas dizem que a gente fica confusa e sem memória na menopausa. 
Eu acho que foi a maconha que fumei na juventude. 

Uma amiga que está no climatério está fumando maconha. Disse que ajuda a acalmar, e não perder o réu primário. Se é fato, eu quero maconha no SUS. Vamos acalmar essa população de mulheres à beira de um ataque de nervos, incluindo eu, claro.

Acho que vou fazer um livro sobre menopausa. A menopausa me deixou cansada para fazer um livro sobre menopausa. Vou mandar uma mensagem para Ingrid Guimarães, ela está nesse tema. Assim, ela que está mais por dentro, pode fazer uma série pra gente. Pensei na Ingrid porque eu não quero a decadência. Eu quero pelo menos rir disso.

Ingrid, vou até voltar a fumar maconha, e colocar na conta do climatério. E vou fumar maconha vendo a série que você vai escrever. 

Tá vendo como esse negócio de climatério é confuso?
Eu esqueci sobre o que era esse texto.

 

sábado, 15 de julho de 2023

Uma palavra

Tem um exercício que você pede para alguém muito próximo te definir em uma palavra. É interessante, façam. 

Pedi para minha mãe me definir em uma palavra. 

Eu: Mãe, me define em uma palavra?

Mãe: Como assim? Eu preciso te explicar em uma palavra?

Eu: Não precisa explicar. Quando você pensa em mim, o que me define pra você.

Mãe: Responsável.

Eu: Mãe...

Mãe: Você é. Quer dizer, eu acho às vezes. Pôxa, difícil definir assim. Precisa ser elogio?

Eu: Quer dizer que você estava procurando uma característica legal pra me elogiar, mas não é o que você realmente pensa?

Mãe: Tá, então não precisa ser elogio, né?

Eu: Mãe, definição!

Mãe: Vivi, você não é focada. Qual o nome para uma pessoa que não é determinada? Você desiste fácil. Se o negócio é complexo, você abandona. E não que você não tenha capacidade intelectual. Você só não faz. Não quer fazer, não faz. 

Eu: Me dá um exemplo pra eu te ajudar com a palavra.

Mãe: No trabalho. Você presta um processo já não se esforçando pra passar. Você não é ambiciosa. Não tem um caminho, uma trilha, sabe? Mas quando a coisa te interessa....Tipo viajar, você decide de forma rápida, organiza, e vai. Hiper focada.

Eu: Então não é que eu não seja determinada. Eu escolho bem minhas batalhas.E aqui a gente tem um erro de perspectivas. Esse foco é o que você gostaria que eu tivesse. É a sua projeção de filho. A entrega que você gostaria que eu fizesse.

Mãe: Tá, então eu vou mudar de palavra. Você é inconstante. 

Eu: Aí eu vou concordar. Mudo de opinião com muita facilidade. E isso chama-se evolução, aprendizado, escuta ativa, abertura para entender o outro, agir de acordo com os meus sentimentos. Se a inconstância é o caminho para o aprendizado e autoconhecimento, eu aceito a palavra.

Mãe: Eu quero mudar a palavra. Você é inteligente...e persuasiva. 

Rimos. 


Rita, Zé, muitos, IA´s e a cultura.

No dia 07/05 chegou em minha casa o livro "Uma autobiografia - Da Rita Lee". 

Comprei porque tinha assistido uma entrevista da Manu Gavassi falando das homenagens que fez à Rita. Sabia que ela estava doente e que de certa forma estavam todos a homenageando em vida para que ela pudesse entender o tamanho de sua influência no rock nacional. 

Dia 22/05 estava agendado o lançamento do "Outra Autobiografia", dia de Santa Rita de Cássia. Queria reler a primeira. A cabeça é aquela coisa, não guarda tudo. Aliás, eu nem sei o que a minha têm escolhido guardar. Isso é outra história, tá vendo como a cabeça engana a gente?

08/05 a Rita faleceu. Eu tinha apenas começado a ler a primeira autobiografia.

Eu ainda acho interessante esses fatos de datas. Semana passada morreu Zé Celso 06/07. Ele havia casado no dia 06/06- Exatamente um mês antes da sua morte.

Nestes dias de falecimentos de pessoas que movimentaram a cultura deixando sua linguagem marcada no tempo, todos que não os conheciam, passam a conhecer - e eu acho ÓTIMO! Vende-se um monte de camiseta, livros, discos, surgem fãs, críticos, videntes que já previam tudo isso, especiais nos programas, ET´s descem à Terra pra ver o que está acontecendo com esses humanos, enfim, é um movimento. 

E da mesma forma que ovacionamos, meses depois, estão no "ostracismo". Dizem que o legado será levado adiante, que lembraremos com respeito e admiração, dizem. Em tempos de Tik Tok, a gente não guarda nem o que almoçou no mesmo dia. Nosso cérebro está virando mingau. 

Lembro de estar em Londres quando a Amy morreu. Camden Town e adjacências estava um inferno (no bom sentido). Todos cantavam, bebiam, falavam, choravam Amy Winehouse. Admito que eu também. Era 2011 e eu era jovem. Me sentia fazendo parte de um momento histórico, de fato estava. Tanto que apesar da minha pouca memória, esse dia ficou cravado nela. Sai dali querendo conhecer mais e mais sobre ela. Não seus vícios, nem seus memes, eu queria saber da artista foda que Amy é. E digo no presente porque a obra está aí. 

Hoje a camiseta da Rita estava em promoção. 

O Teatro Oficina anda cheio, os que não conheciam, querem conhecer o trabalho do Zé (iupi, que bom!)

Amy Winehouse? O que virou o legado dessa artista? Usaram o corpo dela ao último, usaram a memória dela ao último, fizeram documentários dos problemas com as drogas, bebidas, falaram da família, e sugaram de todas as formas possíveis, jogaram o bagaço fora. Em setembro Amy faria 40 anos. Com certeza farão muitas especulações, alguma IA vai fazer o "Como Amy estaria hoje", e vão ressuscitar a Amy de alguma forma. Não pelo seu conteúdo artístico, mas pelo potencial financeiro que essas coisas têm.

E a arte? E a composição? E o real legado?

O que essas pessoas deixam, é uma mudança de pensamento, um tijolo para construção de uma sociedade diferente, um modo de pensar, um modo de ver o mundo sob a lente da arte. É muito mais que uma camiseta com uma frase.

Esses dias a IA da Elis Regina estava dirigindo uma kombi e cantando "Como nossos pais" em um comercial. Elis, já morta, foi comercializada pelos filhos para vender uma kombi. Alguns dizem que foi lindo, foi uma homenagem, os filhos deixaram, e blá blá blá. E eu realmente não tenho nada a ver com isso, mas me dou ao direito de ter minha opinião. Ainda podemos ter uma, certo?

Levando em consideração tudo que a Elis falou, fez, construiu, mudou, revolucionou...Será mesmo que ela venderia uma kombi?

A camiseta da Rita estava em promoção. Na semana que ela morreu estava caríssima, assim como seus livros. Os artistas morrem, o capitalismo lucra.

Amanhã Zé Celso será uma camiseta quando na verdade ele queria ser nome de parque. Parque este que Silvio Santos, que logo mais será nome de Rua, Teatro, Cinema, etc, etc, etc por sua popularidade, não o permitiu construir. Talvez o Silvio IA dirigindo uma kombi faça mais sentido pra mim.


segunda-feira, 26 de junho de 2023

A viagem do eu

Tem um milhão e meio de postagens contando sobre chá de ayahuasca. Provavelmente você vai chegar no vídeo do Caetano, passando pela Maitê Proença e Rian Brito. Talvez o algorítimo te traga até aqui.Talvez!

E, antes de qualquer coisa, eu não sou médica, médium, nutricionista, muito menos especialista sobre o tema. Ou seja, essa é a minha experiência. E ela pode ser muito diferente para cada ser humaninho. Somos biologicamente, socialmente, psicologicamente, fisicamente,  complexos e diferentes. Somos únicos na nossas combinações, então não existe uma regra.

Eu tinha pensado sobre o chá da ayahuasca algumas vezes. Sempre por curiosidade. Fazia uma piada que chá revelação real oficial, é o da ayahuasca, mas sem refletir muito sobre o tema. Era algo que eu sabia da existência, achava interessante, e entendi que o dia que fosse para eu tomar, tomaria. Mas realmente nunca fui atrás. Uma vez, no Peru, me convidaram para um ritual do chá. Não tive coragem. Primeiro porque estava viajando sozinha, segundo que eu estava vindo de um cenário bem ruim de síndrome do pânico, e eu já estava com medos reais demais para entrar no meu subconsciente. E isso é um lance importante. Se conheça, entenda suas limitações. Não tem problema algum você não se sentir pronto. Ninguém te conhece melhor que você. E eu sou bem grata por não ter tomado naquele momento. 

Foi no sábado - 24/06. Eu fiz aniversário dia 16/06. E eu sempre faço um texto de aniversário para me lembrar de como eu penso, e etc. Normalmente publico aqui neste blog que virou mais um diário do que um blog em si. 
Uma amiga me disse que estava indo para um ritual de ayahuasca num sítio no interior de São Paulo. E em tom de brincadeira eu disse "E por quê eu não fui convidada?" - ela me disse que se eu quisesse ela poderia ver se eu poderia entrar no grupo, 20 minutos depois eu estava no grupo. era por volta das 13h e o ritual seria a noite. Tem gente que passa dias se preparando, dias refletindo sobre o tema, alguns passam anos até tomar a decisão. E lá estava eu, em menos de 7h para o ritual, refletindo se era isso mesmo que eu queria fazer.

Bem, eu pesquisei. E aí está o erro, acreditar em tudo que está na internet. Então leia sobre o assunto, mas saiba que assim como você, a internet é um oceano de coisas. Coisas boas, coisas ruins, mentiras, e etc. A peneira de conteúdo é complexa. Aí bateu a insegurança.
E se eu enlouquecer? E se eu for nessa viagem e não voltar nunca mais? O medo da insanidade é real, né? Como se o que a gente vivesse fosse normal. É só olhar pela janela da internet e perceber  que a normalidade foi convencionada, e ela nunca existiu de fato. Mas enfim, isso aqui não é uma ode à sanidade ou insanidade mental. 

Estou em processo terapêutico faz anos. Eu faço teatro por autoconhecimento, faço análise, leio, me escuto, converso comigo e com os outros. Tenho uma escuta ativa e interessada pelo mundo. Será que eu não posso confiar em mim? E, se tudo que eu acho que eu já caminhei e aprendi sobre mim não for suficiente para dar esse passo? Me dei esse voto de confiança. Decidi que a experiência seria minha, e não poderia me influenciar pela história dos outros.

22h em ponto, eu, minha mantinha, meu lencinho de pescoço pro frio, meu japamala (que fazia séculos que não era usado) estávamos lá na tenda sentindo o calor de uma fogueira em roda com mais 12 pessoas que iriam fazer a consagração e três guardiões.

Os três guardiões sentaram conosco na roda, e explicaram como seria o ritual. A duração é de 4h40 e seria servido 3 doses do chá. E que cada um saberia seu momento, e entenderia a dose necessária. Explicaram que cada um tem um processo diferente, e que seria revelado aquilo que nossos corações estivessem prontos para receber. 

Tomei o chá, e esperei o processo. Começou em cerca de 20 minutos. Sabe quando você pega um trem muito rápido, e a paisagem vai passando e você não consegue muito bem entender as imagens? Pra mim foi assim o começo. Era tanta informação, que fiquei até zonza. Acho que é por isso que algumas pessoas vomitam. É uma expansão gigantesca do nosso subconsciente. E lá tem bastante coisa, posso garantir.
O começo é bem difícil, pareceu que eu estava atravessando o umbral. Demorou um tempo para eu conseguir chegar no estado de paz e gratidão. Mas quando eu cheguei, eu não queria sair de lá por nada nesse mundo. Foi a melhor experiência que já tive na vida. A força interna, o agradecimento pela jornada, o entendimento do que sou, e a gratidão por toda a minha história. Eu nunca tinha sido tão grata. 
Não vou entrar em detalhes da experiência em si porque não tem receita. Não tem o melhor jeito de viajar, não é um guia "Conheça a Itália". O terreno é fértil e diferente. E realmente cada um terá sua experiência. 
Mas se eu puder dar só uma dica a dica é AUTOCONHECIMENTO. Saiba seus limites, saiba quem você é - seu lado luz, e seu lado sombra. Agradeça o processo. Se você chegou até ali, é porque estava pronto para aquilo. Nosso cérebro é incrível, e ele essa viagem é interessantíssima. Pode ser que não seja agradável, mas você não sairá sem nada dela. 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Quando uma mulher se liberta

Quando uma mulher se liberta, ao seu redor, outras também se libertarão. E, se não se libertarem, pelo menos em algum momento se questionarão o caminho que estão trilhando.

Diariamente somos bombardeadas por corpos, dietas, abdomens, milagres estéticos como harmonizações, cabelos, roupas que não nos cabem, e julgamentos sobre nossos corpos, modo de pensar, agir ou falar. 

Uma mulher deveria ser mais delicada, mais "bonita", menos falante, menos decidida, menos e mais alguma coisa.  No dia das mulheres vocês vão ganhar um batom. E ainda terão uma quota nos partidos políticos. Se te entendem como quota, significa que em algum momento você foi preterida. Já pensou sobre isso? Vamos dar esse espacinho para elas falarem. Vai lá, moça, fale. 
Você não faz parte das discussões. Você tem um lugar para falar na condição de mulher. Vamos ouvir o ponto de vista da mulher, vai. Vamos fazer este favor.

Enquanto isso os julgamentos são diários desde o nosso nascimento. E vem de onde deveríamos ter o nosso alento, nossas mães. "Você está gordinha, heim?" "Se não emagrecer, nenhum homem vai te querer" "Senta direito, feche as perninhas" "Meninas não falam assim".

Não casou, não teve filhos, não tem o padrão estético. Tadinha, acho que deu errado.

Às vezes a gente esquece que elas também são mulheres, e elas também sofreram pressões. E a forma de amar, é tentar te colocar neste espaço em que a sociedade te aceite. Afinal, ninguém quer uma filha preterida. Ela deu errado. Falhou como mulher. E fica o questionamento sobre o que seria o tal falhar como mulher.

Talvez, só talvez, ela tenha dado certo pra cacete. Não está preocupada mais com o que os homens irão pensar, e em momento algum se diminui - no sentido físico, emocional, ou de opinião, para caber nos lugares. E com isso é vista como alguém que tem ódio - a  mal amada.

Será que podemos ser bem amadas por nós mesmas? Será que podemos parar de dizer que é falta de pica? Falta de um bom homem?

Aos homens é ensinado a amar muitas coisas. Às mulheres é ensinado a amar os homens - disse Valeska Zanello em um estudo maravilhoso sobre masculinidade. 

Diariamente ouvimos mulheres insatisfeitas. Anote em um folha de papel quantas vezes ao longo do dia você vai ouvir uma mulher insatisfeita, principalmente com seu próprio corpo, isso vai encher uma página.

Quando eu estiver mais magra, quando eu fizer meu botox, quando eu fizer minha lipo, quando eu fizer minha harmonização facial, quando eu...

Saibam, irmãs, esse "quando eu" nunca vai cessar. Sempre haverá um outro patamar não atingível, e você vai passar a vida tentando atender as expectativas de uma sociedade patriarcal. 

O "quando" pode ser agora. Agora você pode decidir ser feliz na pele que habita. Agora você pode ser feliz com a sua construção emocional, sem a validação de ninguém. No dia que nós resolvermos nos amar de verdade a gente vai fazer uma revolução.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Aftersun

Parece mesmo que a memória vai apagando. E se você fechar bem os olhos, vai ver lá no fundo algo que pode ser real, ou que pode estar totalmente misturado com as suas emoções. Tem sensações que estão tão presentes, que você sente o cheiro, o gosto, como se fosse o dia de ontem. E esse emaranhado de memórias formam a gente.

Quando eu era criança eu jamais imaginaria que meu pai pudesse morrer. Isso não passa pela cabeça de uma criança. Das minhas irmãs, eu sou a que mais conviveu com ele. Do tempo que meu pai era jovem e tentava ser pai, sem ao menos saber o que isso poderia ser. E quando minhas irmãs me perguntam sobre ele, eu digo que ele era um cara divertidíssimo e a minha criança era muito apaixonada por ele. 

Lembro de ir para escola de cavalinho, com as pernas cumpridas batendo em seu peito enquanto andávamos dois quarteirões até a escola. A gente conversava, ria, ele me dava um beijo e eu entrava para escola. 

Ele brincou comigo de pega-pega, me levou ao circo, aos shows infantis, me deu uma perna de pau, brincou muitas vezes comigo de castelinho e tubarão na praia, ele arrumava o cabelo pra cima e dizia que viraria um grande tubarão e que iria me pegar. Me ensinou a andar de bicicleta, adotou um gato preto, mesmo minha mãe não gostando de gatos, adotou um pastor alemão para cuidar da casa, e no final a gente que cuidava dele o tempo inteiro. Meu pai penteou meu cabelo, trocou meu uniforme de escola muitas vezes, fez meu almoço favorito, me deixava escolher um docinho na padaria aos domingos, e assistia os Trapalhões comigo, tomava chá das minhas bonecas, e estava sempre disposto a entrar no meu faz de conta. 

Eu tenho um medo danado de perder esse cara legal que habitou minha infância. Ele foi embora na minha adolescência. Meus pais se separaram, e eu nunca mais consegui vê-lo com aquele olhar infantil mágico. Mas vira e mexe eu gosto de colocar uma música, ver as fotos, e pensar que foi muito bom ter registrado tudo isso na minha câmera mental.

Então, se eu fechar os olhos agora, eu consigo sentir tudo isso como se fosse ontem. 

E vou refazer esse caminho algumas vezes porque quero manter todos esses fragmentos o máximo que eu puder. Fazia tempo que não visitava. 

Obrigada, Aftersun por isso.